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Os franceses, o bidê e a duchinha

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Bidê antigo

Bidê antigo

O jornal Liberation, durante este verão,  se propõe contar a história de certos objetos do nosso quotidiano. Nesta semana ele nos fala do bidê. A questão é: se do Japão à Itália, o bidê é peça fundamental da higiene íntima, porque ele é inexistente  na França,  sua terra de origem?

Esta peça fundamental, até alguns anos atrás, dos nossos banheiros brasileiros foi, aqui na França, associada à práticas pecaminosas  e se tornou um objeto suspeito.  O bidê foi utilizado nos séculos passados dentro de uma prática contraceptiva, por mulheres de vida fácil.  Somente após a segunda guerra mundial que o bidê perde seu aspecto imoral. Mas à partir dos anos 70 ele vai desaparecer de novo em função da diminuição do tamanho dos banheiros. Mínúsculos, os novos banheiros nao poderão mais  incorporar o bidê.

Me lembro de ter lido um pequeno livro sobre a história da higiene na França. Pode ser que o bidê tenha se tornado um objeto imoral banido das casas das boas  famílias, mas se eu me lembro bem deste livro,  a ausência do bidê tem a ver também com o mêdo que os franceses tinham da água,  da imersão do corpo dentro da água. Um corpo em contato com a água é um corpo fragilizado, sujeito às doenças.

No Brasil, substituimos, por questões de higiene, o bidê pela duchinha que imagino ser uma prática cultural árabe. Me explico. Sou historiadora com passagem pela Sociologia do Trabalho. Nunca pesquisei as origens e a história das nossas práticas de higiene. Vivo em Paris desde 1983 e pude estabelecer certas comparações. Às vezes, a duchinha se torna questão polêmica de artigos publicados nos jornais mais prestigiosos da França. A discussão gira em torno das exigências, da parte de ricos clientes de origem árabe, impostas aos hotéis palácios ou aos hospitais da rede pública francesa. Estes clientes estão habituados à confortável e higiênica duchinha ao lado do wc, como nós brasileiros. Duchinha esta totalmente fora dos hábitos franceses.

Certos hotéis aderiram à pratica e instalaram definitivamente as duchinhas. Mas os hospitais da rede pública as instalam quando os doentes estão dispostos à pagarem a conta. Mas, uma vez terminada a estadia dos ricos malades, elas são desinstaladas. A operação não custa nem um centavo ao governo, ao contrário, estes doentes milionários que escolhem os hospitais públicos franceses pagam pelos tratamentos um valor altíssimo. Mesmo assim o fato provoca discussões infindas sobre a pertinência ou não dos hospitais acatarem as exigências dos estrangeiros.

 

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